[Esse conto foi escrito em fevereiro ou março de 2009 para uma coletânea on-line de fantasia que não me lembro o nome, nem me lembro se saiu. Porém, foi muito divertido, escrevi em uma noite - estava atrasada a entrega - ouvindo "them bones" do Alice in Chains, fora que estava apaixonado, então foi oferecido para uma musa da época]
Day Dee
O sangue descia pela sua testa, cobria seus olhos e mantinha o delicioso gosto de ferro em sua boca constantemente, sua cabeça doía, e cão sentia dificuldade em organizar os últimos acontecimentos.
- Tudo por causa de um maldito café! - Murmurou ao vento, esquecendo da companhia da jovem garota que se encolhia tremendo e chorando em uma longa agonia no canto da sala – Tudo culpa do maldito café.
Cão sacudiu a cabeça, espantando os pensamentos, se abaixou até as meias, pegou uma pistola prateada e uma adaga trabalhada, ambas guardadas nas pernas.
- Agora, vamos pegar aquele puto e aquela vadia! - Rosnou entre os dentes avermelhados pelo sangue que despertava nele certo instinto muito bem vindo.
Parte I - Bons Problemas começam em dias ainda melhores
O dia começava normal para Cão às 14h35min, o horário certo para se acordar. O forte sol já tinha se ido, o barulho de crianças resmungando sobre a escola já cessara, um bom café da manhã com calabresa crua, carne moída com limão e alguns copos da mais pura aguardente faria o dia ainda melhor. Essa realidade fez Cão sorrir do fundo do coração e sentir vontade de sair da cama, rumando direto e reto para a cozinha.
- Cão, traga um café para mim - Disse Jarede assim que percebe a presença do assistente caminhando pela residência - Estou trabalhando naquele caso dos Moura, o roubo a residência deles foi muito estranho. Muito estranho mesmo.
Cão colocou a cabeça para dentro da biblioteca-escritório.
- Sim senhor, trago chefe, vou mijar primeiro e café depois.
Jarede assentiu com a cabeça, jogando de lado o pedido e se inserindo de novo na realidade do trabalho.
Jarede era detetive particular, enquanto estava em um caso, mal comia, dormia ou fazia qualquer coisa que não fosse o caso. E alem disso, cobrava honorários estranhos, Cão se lembra de ter visto seu chefe ser pago em lágrimas ou com um sorriso, não que isso importasse, afinal sempre pagava as contas em dia, e o aluguel de uma casa paralela a Avenida Paulista não é dos mais baratos.
Cão vestiu a velha calça jeans onde parecia ter uma coleção de manchas de gordura, colocou a jaqueta de courim preta, tão desgastada e rachada que um observador desatento pode achar que é um couro de crocodilo enegrecido, e partiu até o único boteco da região onde encontraria comida para o chefe. Jarede é uma fada autentica, pura, e não um hibrido como a grande esmagadora maioria das criaturas nesse tecido da realidade, e como tal, tem o dobro de frescuras que as hibridas sonham possuir. Comida mortal é fatal, o chefe só pode comer comida para fada, feita por fadas com material de fada cultivado por fadas com todas as viadagens que só as próprias fadas conhecem.
O rápido raciocínio de Cão sobre a comida do chefe embrulhou seu estomago, para ele comida boa é comida viva, ou o mais próximo disso possível.
Continuou o caminho pela movimentada e barulhenta Avenida Paulista, parando próximo de um monumento na entrada de um prédio comercial, e olhando para os lados entrou em uma esquina furtivamente, ou o mais furtivo que um homem aparentando 25, 30 anos, sujo, cheirando mal, vestido com uma jaqueta que parece couro falso de crocodilo enegrecido, uma calça jeans verde escura, verde clara na verdade, mas obscurecida pelas manchas de gordura e completamente descalço, e acredite, você não o notaria a menos que Cão quisesse. Andou mais alguns metros rua adentro, parou em um pequeno, mal localizado e sujo bar em um pequeno beco próximo da rua Brigadeiro, entrou, ignorando o velho esbaldando decadência que jazia bêbado a pelo menos uma semana no bar e passando reto pela atendente gorda por traz do balcão com uma enorme pinta peluda no rosto redondo, ela o acompanhou com o olhar, ele deu de ombros e foi até a porta traseira do bar, que ao abrir dava para uma pequena, mas bonita área de limpeza, com um teto de vidro por onde o sol entrava, fechou a porta a traz de si, esperou alguns segundos bateu nela de forma ritmada e abriu novamente, o borbulhar de alegres conversas tocou seus ouvidos, acompanhado de perto pelos aromas mais exóticos possíveis. Era a Taverna do Bardo, o bar das fadas, hora de pegar o café-boioloa do chefe.
A Taverna do Bardo é um dos pontos de encontro das fadas dessa realidade, sua entrada fica em muitos lugares, e sua localização exata em lugar nenhum. A Taverna existe desde que Cão se lembra, e o Bardo sempre esteve à frente dela, sempre sorrindo, e sendo assessorada por Graciele, uma moça calada e a única atendente – fora o Bardo – a trabalhar ali. Cão não gostava do ambiente da Taverna, havia fadas demais por metro quadrado. Não que tivesse algo contra fadas, só não gostava delas, mas não as odiava, afinal era metade uma também. Mas sempre confessava para si mesmo, o quão frescas elas eram.
Encostou no balcão, feito de madeira antiga e mármore cinza, e logo a figura do Bardo o atendeu, um jovem magro, vestido em roupas de couro marrom, enfeitadas com detalhes em ouro, de olhos vendados e com um gigantesco sorriso agora dirigido à Cão.
- Olha só o que os Ventos Latinos me trazem! O velho Cão em pessoa! O que o seu mestre deseja meu caro amigo ofensor de olfato? - O sorriso do Bardo era tão largo, sua voz tão energética e contagiante que Cão resolveu ignorar a ofensa, mesmo sem ter se ofendido, afinal não tomava banho com freqüência mesmo.
- Me vê um néctar de ardória, lemba na luz lunar, e uma garrafa de 51, o néctar e a lemba para viagem, a 51 eu quero com canudo – O Bardo fez um sinal com a mão, uma jovem de cabelos presos levemente arroxeados vestida em couro azulado, levantou a cabeça e fez um sinal de “já vou”.
- Graciele vai colher o néctar, a 51 eu mesmo pego, aguarde um pouco caríssimo amigo, vejo que seu paladar continua extremamente refinado, já aprendeu a cozinhar o que come? - Cão resolveu ignorar de novo.
Logo o café-boiola do chefe estava em suas mãos, e Cão já acabara com metade da 51, juntou as coisas, e se dirigiu à porta, feliz por estar saindo da Taverna, mais 15 minutos ali ouvindo as papagaiadas das fadas e quebraria a garrafa na cabeça, mandaria todos a merda, furaria os próprios tímpanos e cortaria a garganta por fim. A poucos metros da porta Cão ouviu um "click" da porta sendo aberta por fora, uma garota entrou desesperada esbarrou em Cão o derrubando, voou lemba, néctar e 51 a até 10 metros do ponto de impacto. No chão Cão sentiu o peso da garota, que ótimo, ele amortecera o impacto para ela. Sentiu um formigamento tomar seu corpo, um cheiro característico alcançou suas narinas, lembrava ferro, mas era mais doce, esse em especial era muito mais doce.
- Sangue! - diz a si mesmo com os olhos arregalados.
A boca da garota estava sangrando com a queda, ou talvez já carregava esse ferimento antes. Cão se levantou, os olhos saltados e lambendo os lábios que tremiam, se aproximou do rosto da garota, aparentemente apagada pela inesperada colisão, segurou a cabeça com uma das mãos, lambeu o canto da boca onde o sangue dela escorria, e beijou sua boca, buscando o gosto do sangue com a língua. A garota abriu os olhos assustada empurrando Cão para trás.
- O que você ta fazendo?! Seu louco! - gritou a jovem cuspindo e limpando a boca ao longo do braço, se arrependeu ao olhar o rosto do agressor, estava louco, o corpo tremia, e os lábios estavam doentiamente vermelhos.
- Esse... Sangue... - Resmunga Cão lambendo os lábios e envergando o corpo - Humana! você é humana! Como entrou aqui?! – Gritou retomando o controle, esticou o dedo em sinal de acusação para a jovem garota, que agora parecia ainda mais jovem.
O Bardo saltou do balcão, pousando elegantemente no meio exato entre os dois, uma mão levantada e a outra na espada em sua cintura.
- Silêncio temos outros clientes no recinto! - Disse com seu habitual sorriso, mas no mesmo tom que se diz “passa!” a um cachorro vira-lata - Graciele já esta colhendo outro néctar pra você Cão, e garota, Denize é o seu nome certo? sente-se, a primeira bebida é por conta da casa.
A garota olhou com espanto para o Bardo que acabara de dizer seu nome.
- Como sabe meu nome? Agente se conhece? Ou... – O rosto de Denize se retorce em dor – Ou você também trabalha para ele? – Gritou a garota começando a chorar. Essa é a atitude correta dos humanos frente a qualquer coisa que quebre sua frágil concepção de real - Como sabe meu nome moço...
- Sei o que tenho que saber garota – Disse o Bardo de uma forma que Cão poderia jurar ser a bronca de um pai a uma filha – Sei que esta sendo perseguida, que entrou aqui por engano, que estava fugindo de dois homens e um em especial, sei sobre sua irmã. E que precisa de proteção – O Bardo puxou uma cadeira - Venha, sente-se.
Graciele trazia as coisas de Cão, ele agradeceu, não com um obrigado, mas com algo próximo de um grunido e se dirigiu à porta.
O Bardo sussurrou algo para Graciele e voltou o olhar vendado para cão.
- Hum... Cão! Humanos não podem entrar sozinhos no bar, você deixou a porta entre as realidades abertas?! – Disse em tom bem menos de pergunta e muito mais como um inquisidor.
- Eu não fiz nada, a humana entrou sozinha! – Cão falou "humana" como quem diz "pulgas" ao descobrir as penetras em seu animal de estimação – Não é minha culpa, se ela entrou aqui, é porque você não sabe esconder essa espelunca direito! – Espeluncas estavam no topo da lista de lugares que Cão gostava de freqüentar, mas sabia que a palavra iria ofender o Bardo – E outra, não devo satisfação nem nada a você! - E continuo o caminho até a porta com o peito estufado.
Denize soluçava e chorava, bebendo com vontade uma H2Oh trazida por Graciele, enquanto a jovem atendente ouvia os murmúrios da humana.
O rosto do bardo exalava ódio, analisou rapidamente a situação, voando por sobre o acontecidos e reprisando diversas vezes, isso durou meio segundo.
- Na verdade, você deve – Disse calmamente, passando a mão nos cabelos de Denize.
Cão parou sua marcha de triunfo rumo a porta e se virou para o Bardo.
- Devo a quem? – Rosnou.
- A Denize.
Cão franziu a testa.
- Afinal, você bebeu do sangue dela, e ainda roubou um beijo da donzela, sem autorização ou troca. Cão que coisa mais feia... - Disse virando-se para a garota - Você precisa de ajuda não é mesmo?
- Sim... – Completou Denize, e desabou em mais lágrimas.
O rosto de cão se contorceu em fúria, queria estripar o Bardo, que por sua vez o fitava com a venda em deboche.
- Ó! é mesmo que indecência a minha! – rompeu o Bardo batendo as mãos como quem se lembra de algo importante - Eu sou o Bardo, proprietário da Taverna aonde você indevida e inadvertidamente adentrou, essa moça quieta e sorridente que te atendeu e te ouve é Graciele e esse cavalheiro – Apontou para o sujo Cão furioso - Chamado assim por pura educação, que ele alias não possui é Cão, com seu nome auto explicativo.
Denize olhou para os três que a rodeavam, Graciele a seus pés, o Bardo ao seu lado acariciando seus cabelos e Cão mais perto da porta que dela.
- O senhor... é cego – Questionou o Bardo vendado, mais para falar algo, que por dúvida real.
- Sim na estética, mas não no seu conceito da palavra. - Sorriu e beijou a mão de Denize.
- O senhor falava sobre me ajudar... eu quero. – Disse em um triste miado, falando finalmente o que a consumia.
- Ótimo! Quer ajuda? Então vamos sem demora, o meu amigo Cão vai ajuda-la, certo Cão? – E sorriu para Cão, que estava ainda mais perto da porta, com rosto de ainda mais fúria e querendo ainda mais, muito mais estripar o bardo. – Repita comigo mocinha – Disse pegando um cálice dourado e despejando o restante de H2Oh - “Pelas leis imutáveis do Arco, cobro o valor que me foi tomado, exigindo lealdade, até que a divida a sanar não mais seja verdade...”.
- “Pelas leis imutáveis do Arco... cobro o valor que me foi tomado, exigindo lealdade... até que a dívida a sanar não mais seja verdade...” – Choramingou a garota.
- “E que o Fosso cobre o preço pelo ato, se Denize ou Cão quebrar o contrato”. – O olhar de deboche do Bardo para Cão se multiplicou por doze.
- “E que o Fosso cobre o preço pelo ato... se Denize... ou Cão... quebrar o contrato...” – Completou Denize oscilante.
O Bardo entrega o cálice dourado com H2Oh para Denize beber – Só um gole menina – Diz com carinho. Caminha até Cão poucos passos da porta, e entrega o cálice ao sujo, enraivecido e leal jovem, que o bebe sem dizer uma palavra. Joga a comida do chefe no chão, caminha até a jovem garota, com a cabeça baixa, a pega pelo braço e sai da Taverna, sentindo o olhar triunfante do Bardo.
Parte II – Se uma situação esta ruim, acredite ela pode ficar ainda pior.
Cão saiu da Taverna puxando Denize pelo braço, passou pelo boteco, sob olhar assustado da atendente gorda e dos agora diversos velhos esbaldando decadência.
- Ei! Como saímos aqui? Eu estava em um sítio no interior de São Paulo! – Disse tão assustada que esqueceu de chorar.
- Vamos, vou cumprir minha divida, vamos achar a sua irmã... – Caçou um pouco na memória - Daisy, é o nome dela certo?! Pela suas memórias ela esta aqui em São Paulo com aquele puto do... – Caçou na memória de novo - Valentino?!
- Co... Como você sabe esses nomes?
- Tenho o seu desejo como objetivo graças aquele bardo cretino, então as suas memórias relacionadas com o que tenho que fazer são minhas também. Vamos, ainda quero beber e dormir hoje. – E puxou Denize mais forte, apressando o passo.
Denize é uma garota comum, aparenta dezesseis ou dezessete anos, pele clara, cabelos pretos, camiseta branca e calça jeans, é bonita. quem a vê dificilmente acredita que ela e Daisy sua irmã, passaram por tanta coisa, perderam os pais ainda criança, estavam sendo criadas pelos avós, e que assim que Daisy tinha idade para falar e quase entender, fizeram um pacto de sangue no jardim do avô, com a inocência de uma criança, e com a própria natureza como testemunha, mas ainda sim um pacto, onde juraram que aconteça o que acontecer, sempre estariam juntas, e isso aconteceu, mesmo quando sua avó morreu e seu avô as violentou e vendeu, elas sempre estariam juntas. Cão sabia disso e de outras coisas, simplesmente sabia, sabia das torturas e abusos que ela e Daisy passaram nas mãos de Valentino. Sabia como ela fugiu de dois capangas que iriam violenta-la pela terceira vez no dia. Sabia que estavam separadas a dois dias, ela em uma fazendinha no interior de SP e sua irmã na “base” de Valentino, próximo da Av. Paulista.
Cão diminuiu o passo, soltou o braço de Denize e conforme vivia as memórias da garota, sentiu compaixão, ele queria salvar Daisy, do fundo do coração, e daria a sua vida se preciso, pagaria a dívida, custe o que custar, pois também teve uma vida sofrida, já foi chamado de muitas coisas, ladrão às vezes, sujo a maioria do tempo, feio, já foi chamado assim, covarde também, entre outros adjetivos menos elogiáveis, alguns dos mais freqüentes incluem conjecturas sobre o papel da mãe de Cão na sociedade, como o seu emprego e o serviço que prestaria. Desde pequeno Cão aprendeu a resolver esse tipo de problema arrancando um dedo ou dois, às vezes um braço ou dois do conjector. Mas nunca, jamais seria conhecido por não pagar uma divida.
Eles não se falavam a pelo menos vinte e poucos minutos quando Cão parou em uma lanchonete, pediu um lanche e uma coca-cola, e o entregou a Denize, que agora estava mais calma, o rosto vermelho e inchado de tanto chorar. Ela é bonita mesmo, concluiu Cão.
- Você sabe aonde estamos indo moço? - Perguntou Denize estranhando a calma em sua voz, e mastigando ferozmente o x-bacon.
- Cão.
- Oi? – Ela bebia a coca-cola.
- Pode me chamar de Cão, é o meu nome.
- Cão... ? Cão de que?
- Só Cão, sem o "de que".
- Há... sabe onde estamos indo senhor Cão? – Ela lambia os dedos.
- Indo pegar a sua irmã Daisy.
- E... como o senhor sabe que é para esse lado... senhor cão?
- É no sentido da Augusta certo? Foi o que vi, é o que as suas memórias me dizem, e também o que meu nariz fareja. Fora que de vez em quando eu freqüento alguns puteiros na região.
- Puteiros ? – Ela franziu a testa e terminou a coca-cola.
- Isso, puteiros. PU-TEI-ROS.
- Há.
- É.
- Cão, você não vai comer?
- Não como isso.
- Você... gosta de sangue né? Eu sei o que ele faz com você...
Cão a olhou irritado, mas não disse nada, isso era efeito do pacto pela dívida, ele apenas a ignorou, Denize percebendo que o que disse, calou-se.
E não falaram nada pelos próximos quarenta e poucos minutos, apenas caminhavam, admirando a fim de tarde enquanto a noite bailava apaixonada com o por do sol.
A Rua Augusta, nem sempre foi chamada assim, ela já possuiu o nome de Rua Maria Augusta, mas isso foi à muito tempo, São Paulo ainda era garotinho, e não o adolescente em fúria que é hoje, ela veio a luz graças a Manuel Antônio Vieira, um imigrante português que gostava de abrir ruas em sua gigantesca propriedade, tanto gostava que também deu a luz a mais ilustre das irmãs de Augusta, a imponente e bela Rua da Real Grandeza, que hoje usa o nome de casada com a cidade de São Paulo, e se chama Avenida Paulista, Real Grandeza é só o nome de solteira, nela hoje você acha de tudo, tem bancas, boates, bares, museus, sorrisos, dinheiro, sonhos, desejos, desilusões, arte, bancos, rádios, emissoras de tv, portais, artefatos, detetives, hoteis, hospitais e mais um punhado bem vasto de coisas, e na irmã Rua Maria Augusta hoje, você acha metade de tudo o que foi falado na ex-Real Grandeza, só que no lugar das virgulas, leia puteiros.
Cão se aproximou de uma casa pequena de aparência antiga, era de um amarelo desbotado, e cheirava a prazer e desilusão, é um bom aroma, Cão gostava, ele mesmo se lembra de ter estado ali, algumas vezes, tinha prostitutas ótimas pelo preço que era cobrado. Provavelmente a primeira puta que comeu ali, deve ter morrido a pelo menos uns 60 anos atrás, ele era um cliente velho então, esse pensamento o divertiu. Denize caminhava cabisbaixa, sem choro mais tremendo poucos passos atrás de Cão, a noite já caíra, e desde que estava com o parceiro de resgate - se é que podia chama-lo assim - esta era a primeira vez que sentia angústia, desespero e medo tudo junto. Sentiu vontade de correr na direção oposta a casa amarelo-desbotada, mas lembrava que tinha que salvar Daisy, e então segurava as própria pernas e agradecia ao deus mais próximo pela força da gravidade que a mantinha com os pés no chão.
- Daisy, já estamos chegando - Sussurrou ao vento esperando que a irmã ouvisse.
Cão olhou a casa amarela desbotada por alguns segundos, abriu o portão de ferro, que rangeu alto dando as boas vindas, bateu na pesada porta de madeira negra e descascada, e logo foi recebido por uma mulher apenas de calcinha e meia arrastão. Ela tinha belos peitos. E se viu em uma sala onde um punhado de jovens e dois velhos esperavam pela sua vez de receber atendimento, mal se olhavam, mas todos se viraram para ver Denize quando ela entrou, isso incomodou Cão, e ela também não parecia muito a la vonté no ambiente.
A mulher que os recebeu era bonita, na casa dos 35 com coxas de 20 e seios a mostra de 19 e meio, Cão se orgulhou do minucioso julgamento não dando atenção enquanto ela falava que da casa, só uma tal de Alucarda aceitava trabalhar com casal, mas ela não estava hoje por indisposição.
- Na verdade, viemos falar com Valentino – interrompeu Cão. A objetividade pareceu assustar a mulher, que passeou o olhar pela sala e pelo chão, e convidou os dois a aguardar em uma outra sala.
O puteiro era bem maior por dentro que por fora, provavelmente algo como a Taverna, isso é magia poderosa, Cão sentiu a preocupação tomar uma parte de seu corpo, nem sequer sabia com o que estava lhe dando. Mas agora tinha uma certeza, não deve ser humano. E isso reduz muito a expectativa de sucesso que Cão tinha.
Os dois acompanhara a mulher, Denize o seguia cabisbaixa, tremendo cada vez mais, e agora, Cão podia jurar que ela também chorava entre os espasmos. Muitas vezes a menina segurou o impulso de agarrar o braço de Cão e desabar em choro e desespero. A mulher dos seios de dezenove e meio pediu que eles aguardassem na cozinha que iria chamar Valentino e seguiu por uma porta a frente. Cão assentiu com a cabeça, virou-se e retirou a jaqueta preta de courim rachado, a vestindo em Denize, deu nela uma tentativa falha, que lembrava apenas vagamente um abraço e beijou seu rosto, agora soluçante e ensopado de lagrimas. Os lábios de Cão estavam salgados, a compaixão não era um sentimento que ele gostava, parecia muito com fraqueza.
- A gente vai pegar ela... - Disse em tom baixo, arriscando um consolo infrutífero.
- Senhor... - Disse a voz da mulher-dos-peitos-de-dezenove-e-meio.
Cão se virou, bem a tempo de ver a panela empunhada pela jovem senhora vindo de encontro a sua cabeça. Imediatamente, Cão apagou.
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Continua Nesse Post
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