Cuidado... depois não fale que eu não avisei.

domingo, 16 de janeiro de 2011

 Metáfora

Nesses últimos micro-anos (que para mim são períodos extremamente longos e produtivos que acontecem independente de uma medida de tempo - pode ser um dia ou dois meses) tenho sentido uma atração imensa, por símbolos e a linguagem simbólica.

Assim, o mundo funciona por metáforas, por símbolos, e são eles que compõe toda a estrutura, todo o fundamento sobre o qual arquitetamos o nosso mundo objetivo de pensamentos e vontades, nessa estrutura estão nossos conceitos, religiões, filosofias, manifestações artísticas e as ferramentas de interpretações de tudo.

Assim, percebi que um dos passos mais significantes da minha vida foi dado a muito tempo atrás, quando não sem ajuda, compreendi o que é um símbolo, uma metáfora, seu poder e força. 

Bom, para tentar traduzir isso melhor vou me recolher a minha ignorância e deixar que alguém muito mais ferrado fale sobre metáfora em meu lugar: 


por Joseph Campbell
"Deixe-me começar, explicando a historia de meu impulso para colocar a metáfora no centro de nossa exploração da espiritualidade ocidental.

Quando o primeiro volume do meu Historical Atlas of World Mythology: The Way of Animal Powers foi publicado, os editores me enviaram numa turnê publicitária. É o pior tipo de turnê possível porque você tem de se encontrar, sem a menor vontade, com locutores de rádio e repórteres, eles próprios indispostos a ler o livro sobre o qual devem conversar com o entrevistado, para gerar visibilidade.
A primeira pergunta que me faziam era sempre:
“O que é um mito?”
É um bom começo para uma conversa inteligente.
Em uma cidade, porém, entrei numa estação de rádio para um programa de meia hora, ao vivo, em que o entrevistador era um jovem com ar de astuto e que imediatamente me alertou:
“Sou difícil, já vou lhe avisando. Sou um cético.”
A luz vermelha acendeu e ele começou, argumentativo:
“A palavra ‘mito’ significa ‘uma mentira’. Mito é uma mentira”.
Repliquei com a minha definição de mito.
“Não, mito não é uma mentira.
Uma mitologia completa é uma organização de imagens e narrativas simbólicas, metafóricas das possibilidades de experiência humana e da realização de determinada cultura em certo momento”.
“É uma mentira”, ele retrucou.
“É uma metáfora”.
“É uma mentira”.
Isso continuou por uns vinte minutos.
Quatro ou cinco minutos antes do fim do programa, percebi que o entrevistador não sabia o que era uma metáfora. Resolvi tratá-lo da mesma maneira como estava sendo tratado.
“Não”, eu disse.
“Eu lhe digo que algo é meta fórico. Dê-me um exemplo de metáfora.”
Ele respondeu.
“Dê-me você um exemplo”.
Eu resisti.
“Não, agora eu estou fazendo a pergunta”.
Eu não tinha lecionado por trinta anos à toa.
“E eu quero que você me dê um exemplo de metáfora”.
O entrevistador ficou totalmente pasmo e chegou a dizer:
“Vamos chamar um professor.”
Finalmente, depois de um minuto e meio, ele se recompôs e disse:
“Vou tentar. Meu amigo John corre muito. Dizem que ele corre como um veado. Isso é uma metáfora”.
Enquanto se passavam os últimos segundos da entrevista, eu repliquei.
“Isso não é metáfora. A metáfora seria: John é um veado”.
Ele revidou: “Isso é uma mentira”.
“Não”, eu disse. “É uma metáfora”.
E o programa terminou.
O que esse incidente sugere sobre a nossa compreensão de metáfora?
Ele me fez refletir que metade da população mundial acha que as metáforas de suas tradições religiosas, por exemplo, são fatos.

E a outra metade afirma que não são fatos, de forma alguma.
O resultado é que temos indivíduos que se consideram fieis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros se julgam ateus porque acham que as metáforas religiosas são mentiras. "

Abraço!

Um comentário:

  1. Definição maravilhosa... o extremismo dos ateus e dos fanáticos religiosos realmente me cansa, talvez nada esteja tão acima nem tão abaixo, e sim no centro de todas essas ideologias! ;D

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