Cuidado... depois não fale que eu não avisei.

domingo, 25 de dezembro de 2011

 Quem não ama o modelo familiar?

Postagem original de 03/09/09
Papai, mamãe, titia..

Nossa sociedade é pautada pela certeza da razão, uma ilusão tola, uma negociação certa construída sobre desigualdade, e idéias sem caminho. Sustentando uma sociedade de cidades virais-parasítica que reproduzem a si mesmos as custas de seu hospedeiro, sua saúde, sua existência plena.

A reprodução tem um ente minoritário em seu tamanho e percepção, porém responsável por todo aparelho que compõe a mente de jovens humanos, esse ente é em si o primeiro culpado, uma nanoconstrução com microfábricas febris de pré-conceitos e enrijecimento calcificado, de mentiras e amores quantificados, de dores sem nome e desejos reprimidos. O nome desse ente é claro, com um sentido característico a todos os filhos da sociedade ocidental pós-industrial, e também, muitas vezes desejado, na ilusão de uma liberdade, este ente é chamado de família. Uma estrutura de formato nuclear, semi-independente, com raízes e um eficaz aparelho reprodutor ativado por ilusões, desejos e esperanças, simulais ou não.

Este ente travesso, produz suas ilusões próprias e características, que ambicionam ser eternamente o mapa de interpretação de um mundo, os primeiros códigos formadores de zeros e uns de todo veneno e peçonha, desde o espírito da incerteza até o dedo do algoz, que aspira ser o fim da revolução, não pela realização, nem pela resistência, mas pela morte na punição, na negação, no medo e segurança, como um ovo isolado de um mundo de possibilidades e vida.

Desde Korzibsky berrando a não-possibilidade de fechamento do mapa, apoiado por poucos ocultos que querem revelar a beleza da incerteza e malignidade da segurança. A respeito dessas verdades negras. Respondemos em coro:

"somos alimentados também, pelas ações negativas tanto quanto as positivas! Se é o fim da Revolução e o fechamento do mapa, que essa ação gere em nós a energia de uma reação!" 
"Vamos Manifestar, o idílico!"
"Vamos contra a bürgerliche Familie, manifestada como Kernfamilie der Ungleichheit!"

A família nuclear, ou família núcleo, nossa deliciosa Kernfamilie é a unidade base da sociedade de Konsenso e Komodidade. Não tem relações com a mudança e a possibilidade, se não de distanciamento e isolação, a fora frases de "fique longe dele filho, é alguém muito estranho", não espere referencias dessa família a ninguem que não pertença a escala viral e konsensual, mas ignore, deixe-as entregue as suas consequentes "dores edipianas".

Nós queremos algo mais válido a uma organização para a sociedade que superou a revolução agrícola, cuja escassez de alimentos provavelmente gerou a hierarquia familiar, uma sociedade que passou a revolução industrial, cuja necessidade de hierarquia, comando e poder, estatizou, massificou e usufruiu da hierarquia familiar, ainda queremos a família, mas por que não em festa e contato? por que não com confraternização e participação? por que não com uma ecologia familiar? por que não algo como um... um... um Bando!.

Esse modelo paleolítico, e tribal, uma típica organização nômade ou semi-nômade, algo como caçadores/coletores, que em sua manifestação primeira era formada por cerca de cinquenta pessoas. Ou mais, em caso de sociedades tribais mais populosas, onde essa estrutura de bando é validada, lubrificada e  mantida por Clãs dentro da tribo, ou talvez confrarias como sociedades secretas ou iniciáticas, ou quem sabe sociedades de caça ou de guerra, até mesmo associações de gênero, pense em uma "sociedade de crianças" realmente gerida por elas e com a sua voz. Pense mais, pense por aí adiante... pense na possibilidade. Amo essa palavra e seu sentido. 

Se como falado acima, a família nuclear é gerada pela falta e pela escassez - cujo resultado óbvio é  avareza da família é fechada, geneticamente comandada, pela posse masculina sobre as mulheres e crianças - é fácil entender o bando como ser gerado pela abundância - o que produz a prodigalidade de um bando aberto, não para todos, é claro, mas para um grupo que divide afinidades - pense na abundancia de iniciados que juram sobre um laço de amor, antes de uma bandeira, que escolhem seus irmãos pela vivência não pela obrigação do gene, mas sem jamais esquecer quem te trouxe a beleza da vida, porém sem que haja uma dívida.

O filho de uma família nuclear nasce escravo e sob o medo e violência de posse. Ele pertence a alguém, não é um ser, um ente, é antes um objeto um produto pós industrial, e pelo resto de sua existência lhe é cobrado a dívida que só pode ser paga pela própria vida, pois o preço de viver é não viver, é a ignorância da beleza por uma vida utensíliar, um eletrodoméstico quebrado, que ele próprio não comprou. "Reproduza nossa dor! Sofra nosso sofrimento! Seja o tirano que sou! Sofra como eu sofri! E morra por uma verdade mentirosa e sem beleza! ai então, esta paga a divida da vida!"

Obrigado, mas não quero. Não existe um SPC kármico. Fazemos hoje aquilo que queremos para o hoje, para o instante eterno. Precisamos ser oque queremos que tudo seja. Passado e Futuro existem na memória e na esperança, ambas valorosas e significativas. Porém, só o presente é eterno. 


Meu guru Peter Lamborn me aponta a direção: "O bando não pertence a uma hierarquia maior, ele é parte de um padrão horizontalizado de costumes, parentescos, contratos e alianças, afinidades espirituais etc.". Creio que muitas potencias estão trabalhando nesse momento, algumas visíveis, outras nem tanto, para dissolver a família nuclear e organizar o conluio anti-bürgerliche-Familie. Queremos o retorno do bando "como o vitorioso dionísio que vai transformar o mundo em uma festa!". E como afirmar tamanha afronta? olhe para o nosso próprio momento social da Simulação pós-Espetacular. Veja as rupturas na estrutura do trabalho, veja como elas refletem a "estabilidade" estilhaçada da unidade-lar e da unidade-família, a estrutura família hoje cai pétala a pétala de sua flor murcha de cor doentia, enquanto o próprio bando já se forma com amigos, ex-esposos, amantes, pessoas conhecidas em diferentes empregos e encontros, grupos de afinidade, redes de pessoas com interesses específicos, redes sociais, e tantas outras conexões não hierarquizadas, ou enlaçadas por amor e vontade. 

Os dias e o tempo, tornam mais claros e mais evidente que a família nuclear se torna uma armadilha, nada mais que um ralo cultural, uma secreta implosão neurótica e desesperada de átomos rompidos. E a contra-estratégia simples emerge espontânea na quase inconsciente redescoberta da possibilidade, mais arcaica, sim,  no entanto, mais moderna.

Um comentário:

  1. Lendo esse post da pra observar algumas coisas que têm prevalecido acima do que deveria ser a união familiar.. As pessoas estão muito mais individualista e distante, as relações são mais superficiais. Talvez justamente por essa 'abundância' que você tenha citado, as pessoas se sentem capazes de conseguir tudo por si mesmas, sem ajuda de ninguém, e anseiam por cada vez mais seja la o que elas querem. Seja tribo, ou família, qualquer tipo de união, ao meu ver, está se quebrando.

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